sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O Espelho


Quando convivemos muito com os amigos aprendemos seus sinais, a expressão, a ladainha, o “jingle”. Aprendemos a reconhecer, não o pior e melhor, pois o ser humano sempre sumpreende, mas o que há de bom e ruim. As mudanças, transformações e renovações, as derrotas e frustrações.
Não observo como julgadora, mas como aluna ávida em aprender sobre tudo, sobre as pessoas, o ser humano, e sobre mim mesma.
Uma das coisas que aprendi, é que na maioria das vezes reconhecemos nos outros, do ruim e de bom, o nosso próprio reflexo, reconhecemos o que já existe em nós, manifesto ou em semente.
Pensando por este ponto de vista, às vezes, é conflituoso, surpreendente e até doloroso aceitar. Não queremos enxergar em nós o mal, a podridão e o lixo que atribuímos aos outros. Para alguns é mais fácil, por consciência, humildade, ou até mesmo por baixa estima e auto piedade. Mas por outro lado vemos também virtudes e atitudes admiráveis que reconhecemos também da mesma forma, pelo reflexo, narcisismo, desejo profundo de ser melhor quando já nós é latente tal ou qual virtudes. À partir daí vem o que pode nos fazer melhor ou pior como seres humanos, o que fazemos com estas informações, o quanto de auto consciência ela pode nos proporcionar se formos bons observadores e atuarmos por parâmetros positivos sejam eles de origem moral, ética, filosófica ou espiritual.
Uma forma negativa é a inveja. Existe a “inveja saudável”, quando sentimos que queremos o mesmo que alguém tem, mas, sem desmerecer as pessoas que já tem o que queremos pra nós. E existe a inveja destrutiva, que atinge a nós mesmos e aos outros, a que nos faz julgar mais merecedores do que os outros das coisas que possuem e que queremos. É claro! Não falo apenas de coisas materiais, mas de tudo. Das coisas mais importantes como saúde, paz, amor, amizade, dons e talentos naturais. As pessoas invejosas ou que por algum motivo passam por este estado de espírito tão “infra”, são pessoas sofredoras que invertem o sentido das coisas, que acham que se os outros forem mais infelizes elas vão se sentir mais felizes, pois ninguém vai ser mais feliz que elas. Então uma série de defeitos humanos é desencadeado, a ira, a luxúria, a cobiça, o orgulho e até mesmo a gula e a preguiça. E cada um pode fazer seu próprio exame de consciência e observar de que forma seu próprio ego faz seu trajeto desencadeando estes defeitos humanos. Em cada ser há o carro mestre, o chefe que origina o desencadeamento.
Todos nós estamos aqui neste mundo para aprender a sermos melhores, o fato de estarmos aqui é que ainda não alcançamos isto, estamos no trajeto cada um em sua própria velocidade. A observação e auto-observação é um exercício que muito auxilia àqueles que querem quebrar a mecânica das coisas, que sabem que são falhos mas querem melhorar. É como dizem: “se quiseres derrotar o inimigo conhece-ô”, e os piores inimigos não estão fora de nós, assim como os melhores amigos também estão dentro.
Observando, aprendendo, não só reconhecendo os inimigos internos, mas também os amigos e aliados que nos ajudarão a sermos vitoriosos sobre nós mesmos, seremos com certeza a cada passo, melhores seres humanos.
Confesso aqui, que esta aprendizagem, a de observar e de auto me observar, fez-me reconhecer um dos meus piores defeitos, quando eu notei que, expressivamente quase batia no peito pra dizer... “ Sou uma pessoa humilde!”... Pois só enxergava tal defeito nas outros pessoas. Então um dia, observando-me, a frase se completou com o sentimento que a expressava... “Tenho ORGULHO de ser humilde!”
Agora tento aprender o que não sabia, o verdadeiro conceito da humildade. Falo em conceito, pois sinto que ainda esta consciência alcançou apenas o meu nível mental. Ainda há um longo trajeto até alcançar a minha verdadeira essência. É conflituoso e há muitas armadilhas, pois um de meus aliados na busca de ser uma pessoa melhor é o próprio orgulho.
Outra experiência foi quando me dei conta de minha própria vaidade, não me permitia cuidados de beleza, justificando que as pessoas do meu convívio deveriam gostar de mim como eu era, ou seja, uma desleixada. Eu mesma queria me achar bela e sensual mal vestida e descuidada, claro que não conseguia, e queria impor isto aos outros e ainda criticava quem era, ao meu ver, muito vaidoso(a). Coloca-se ai também bastante baixa-estima. Tive que começar a pensar em me valorizar mais, me amar, cuidar de mim, e não me achar a tal só por que era “natural”. Pura vaidade!
Em suma, agora eu reconheço a minha vaidade, mas cavalgo nela e não ela em mim, assim como o orgulho, e enquanto não posso me livrar deles e ser um ser humano realmente puro, vou reconhecendo, domando e atrelando como posso estes sentimentos. Com a consciência de que ou domino ou serei dominada e que este “domínio” por vezes é ilusório, mas é melhor tentar fazer algo a me justificar pela ignorância ou omissão e não ter a chance de me transformar em algo melhor.
Mas acredito que reconhecendo esta teia de padrões, fica cada vez mais fácil quebrá-la e um dia, talvez, daqui a algumas reencarnações, poder começar a instituir um verdadeiro ser muito melhor do que sou agora.
A verdade NÃO está lá fora, mas dentro de nós mesmos. O mundo é um espelho.

Isabel Batista

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