sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Macaco e o Crocodilo


Há muito, muito tempo atrás, no topo de uma árvore bem alta, no meio da floresta vivia uma família de macacos. Era composta pela mãe, o pai, duas filhas e um filho. As duas macaquinhas eram obedientes e ouviam os conselhos da mamãe macaca: como se balançar na cauda; como se pendurar nos galhos finos onde nenhum animal perigoso pudesse atacá-las sob o risco de cair do galho; como distinguir os frutos comestíveis dos venenosos. E como pentear os pêlos com as unhas para que suas costas ficassem macias e limpas.

Mas o filho não ouvia a mãe, pois julgáva-se o macaco mais esperto da floresta. Ele se achava muito importante para brincar com as irmãs e costumava dar seus passeios sozinho pela copa das árvores.

Um dia, no meio da floresta, encontrou uma grande clareira onde viviam vários homens. Ele pensou que se tratasse de uma espécie real de macacos, da qual nunca ouvira falar, e disse a si mesmo: ‘Esses são os companheiros que estão à minha altura. Tentarei ser exatamente como eles’.

Ele notou que os outros não tinham cauda; então, colocou a sua sobre o braço como se estivesse carregando alguma coisa. Mas, como estava acostumado a usá-la para se locomover toda hora caía das árvores e batia em alguma coisa. Entretanto, não aprendeu nada com essa experiência. Ele viu também que os seres humanos não tinham pêlo no corpo, e tentou arrancar o seu para ficar mais parecido com eles. Mas sentiu tanta dor e a pele desnuda ficou tão fria, que ele parou de fazer isso.

Então, um dia, viu um dos homens sozinho na floresta. Aproximou-se dele e disse:

- Gostaria de me reunir a sua tribo de macacos.

O ser humano era um homem muito sábio, que conhecia o idioma dos macacos. Ele disse:

- Nós não somos macacos, somos homens.

- Bem, eu também quero ser homem – retrucou o macaquinho.

- Chegará um tempo - explicou o sábio - que todos os animais da floresta serão homens. Não seja impaciente. Quando sua hora chegar, você deixará a companhia dos macacos e conhecerá a solidão do homem. Aprenda tudo o que tiver para aprender como macaco, assim você se tornará sábio mais depressa. Pare de carregar sua cauda no braço! Se você não usar o que os deuses lhe deram, um dia lamentará sua falta!

O macaquinho ficou muito zangado, pois continuava pensando que os homens formavam uma tribo tão importante de macacos que se consideravam especiais demais para brincar com ele, exatamente como ele próprio se sentia em relação as suas irmãs. Deu umas respostas bem grosseiras para o sábio e se refugiou na floresta.

Certo dia, enquanto caminhava pela margem do rio - ainda carregando a cauda no braço -, viu um homem navegando em uma jangada, e disse a si mesmo:

'Também posso fazer o mesmo; assim, finalmente, acreditarão que sou da mesma espécie de macacos que eles'. Viu na água o que pensou ser uma tora de madeira, e saltou sobre ela. A tora começou a se mover, e ele se sentiu muito importante.

De repente, a tora de madeira abriu dois olhos muito malvados e o encarou. Somente então ele se deu conta de que estava em cima de um crocodilo. Ficou tão assustado que saltou na água e começou a nadar bem depressa.

Quando estava prestes a alcançar a margem, o crocodilo mordeu sua cauda e a arrancou!

Enquanto voltava para casa, para perto de sua mãe, todo os macacos que ele desprezara apontavam para ele, riam e caçoavam dele. Ninguém teve pena dele, a não ser sua mãe, que, é claro, ainda o amava, apesar de ele estar horrível.

Pouco tempo depois, houve uma grande tempestade, e a árvore onde eles viviam começou a balançar tão violentamente que o pobre macaco, que não tinha cauda para se segurar, caiu dela de ponta cabeça e morreu.

Menos de um ano mais tarde, ele nasceu novamente da mesma mãe. Aprendeu a se balançar com a cauda mais depressa do que qualquer filhote jamais aprendera; e ouvia todos os conselhos de sua mãe; tornou-se o macaco mais simpático e amigável da floresta.

Afinal, ele havia aprendido que só se encontra a felicidade e a sabedoria quando se aprende a usar o que os sábios deuses nos dão.


História extraída do Romance “O Faraó Alado”

Joan Grant – Editora Pensamento


Nenhum comentário: